quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Barril de Alva vai ter novo cemitério

 




A notícia era esperada… desde o ano de 2008!
Por essa altura, o presidente da Junta de Freguesia do Barril de Alva anunciava ter poucos talhões disponíveis no cemitério, daí a necessidade de o aumentar para um dos lados, obra complicada, com custos elevados.
Em 2009, as eleições autárquicas mudaram o rumo da freguesia; o novo executivo, entre outras prioridades, ocupou-se a preceito da gestão daquele espaço e, até aos dias de hoje, os nossos mortos sempre tiveram espaço disponível na sua derradeira morada...
Chegados a 2024, a real falta de espaço no cemitério - agora sim! - poderia ocasionar uma ou outra situação constrangedora.
Perante os factos, andou bem a União das Freguesias de Coja e Barril de Alva quando decidiu construir um novo cemitério nas proximidades do atual, em terreno da autarquia, depois de ponderadas outras hipóteses, financeiramente mais dispendiosas…
Aqui chegados, recuemos no tempo - ao dia 11 de março de 1920:

- "Cópia de parte da ata da sessão da Comissão Executiva da Câmara Municipal de Arganil, de 11 de março de 1920"
 
- DELIBERAÇÕES: “Tendo-se apresentado nesta sessão o cidadão Albano Nunes dos Santos, do Barril, declarou que fazia entrega à Câmara dum cemitério construído naquele povo por seu irmão Abílio Nunes dos Santos, em terreno de António Freire de Carvalho e Albuquerque, com a condição de que o espaço de terreno designado na planta que aqui fica arquivada, sob os números 3, 4 e 5 se considera pertença da família Nunes dos Santos, e o designado sob os números 6 e 7 da família Freire de Carvalho, e ainda também com a condição de que, se no referido povo do Barril se constituir algum dia uma freguesia, para a Junta respetiva se transfira a administração e a propriedade do mesmo cemitério (…)”.

O texto do documento termina com o reconhecimento público da Câmara Municipal:

“1.º Louvar o cidadão Abílio Nunes dos Santos pelo melhoramento que dotou a sua terra natal, o qual é e continuação de outros mais, que lhe dá direito à gratidão do povo;-----

2.º Aceitar a doação nos termos em que foi feita salvos outros direitos de preferência, caso a Câmara na próxima sessão plenária o entenda por bem;----

3.º Louvar o cidadão António Freire pela cedência gratuita do terreno do dito cemitério".----
Como se “vê”, naquele tempo, “foi assim” que nasceu o atual cemitério, mais tarde ampliado.
- Em 1920, o Barril (sem “de Alva”) fazia parte da freguesia de Vila Cova de Sub Avô - a “carta de alforria” chegou em 1924, data que o Barril de Alva recordará em julho próximo, e o cemitério passou para a gestão da nova freguesia.
- Em 2024, na falta de “investidores privados” (como aconteceu em 1919), é a União das Freguesias de Coja e Barril de Alva que assume a responsabilidade da construção de um novo espaço com a mesma finalidade.
CR

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Barril de Alva - a Banda faz anos!



Festejar com “pompa e circunstância” 129 anos de vida, é obra - de obra feita, sem interrupções. É por isso que o carrego pesa. É por isso que, com esforço e algum sacrifício, se mantém a tradição da “visita aos sócios”, porta a porta, como se o povo inteiro fosse o único sócio – e é, quando os ventos não correm de feição!
É por isso que uns assumem a gestão da instituição e outros o instrumental - a “música”, razão de ser da existência da instituição. Sem a “música”, não havia Filarmónica – esta Filarmónica, cujo registo de nascimento remonta ao dia 5 de novembro de 1894 pelo empenho e conhecimentos musicais de José Monteiro de Carvalho e Albuquerque, senhor da “Casa do Barril”, desde sempre conhecida como Quinta de Santo António.
O “senhor da Casa do Barril”, de início, chamou-lhe Grupo Musical da Quinta de Santo António com alguma lógica; mais tarde o nome foi alterado para Sociedade Filarmónica Barrilense e, no passado recente, foi modificada a sua designação.
Viva a Banda da Associação Filarmónica Barrilense – por muitos anos e bons! Viva!

"Rapazes" de outros tempos...

segunda-feira, 29 de maio de 2023

"Chegaram os cucos"



Hoje, segunda-feira, o dia está cinzento e chove, coisa pouca, é certo.
Fico por casa, de quando em vez vou à varanda
- simplesmente, vou à varanda sem uma razão específica.
Talvez por vício...
A neblina de um dia de outono não deixa ver para além do quintal – mal distingo os pinheiros que o vizinho cuida com esmero.
- É da minha varanda que me encanto com a Serra do Açor e sei, de olhos fechados, que o Mont'Alto fica no enquadramento estético da imagem que tenho à minha frente.
- É da minha varanda que, pelo canto e presença, (também) associo as rolas e os melros à primavera, embora tenha encontrado um dia destes um ninho de Carriça vazio…
O dia chuvoso e triste, de repente, alegrou-se e sorriu com os sons que vinham de além da ribeira:
- “Cu-cu; cu-cu; cu-cu..”.

“Chegaram os cucos”!
*
Ler mais aqui:


sábado, 22 de abril de 2023

*O muro e os "Sinais" de Fernando Alves

Pelas mãos do Carlos “Fota”, repara-se o muro, direito e aprumado na altura, pedra sobre pedra, como se o artesão tivesse na memória os segredos do mestre Hiram Abiff - alegoria exagerada e sem propósito, é bom de ver, o fio de prumo, nesta obra, não é necessário, mas tem preceito quando associado às insignes personalidades de Fernando Vale e Alberto Martins de Carvalho, conterrâneos de quem viu a luz do dia por estas bandas da serra do Açor.
Avança o muro que, segundo o “Fota”, acima do terreno irá crescer nas alturas, mais coisa menos coisa, um metro, e avanço eu no passeio matinal de (quase) todos os dias até ao Casal do Meio, onde Alberto Martins de Carvalho, amigo e correligionário de Fernando Vale, teve casa de férias e eruditas conversas com os seus pares, “discretas e secretas” como convinha na época do Estado Novo.
Na minha companhia vai o “Bello”, o cão, parceiro gentil, famoso pelo nome e figura, aqui e em Coja.
Volto ao muro que o Carlos “Fota” garante, depois de pronto, a contento do dono da propriedade; cumprimento o artesão, olho a obra, e sigo adiante com o pensamento (ainda) em desassossego com os “Sinais” de Fernando Alves desta manhã …
De Torga a Fernando Vale, das rádios da vizinhança à Filarmónica do Barril de Alva, do "Farrosca", o músico de outros tempos, ao paisagista sonoro Luís Antero de agora, se construiu a crónica da TSF, lida pelo autor.
Foi um “desassossego”, sim, a leitura dos “Sinais” de Fernando Alves, que permanece latente pelo relato da sua viagem, carregado de poesia e laivos de saudade quando as palavras tocam ao de leve na ausência física de "(…) Fernando Vale que tanta falta nos faz como a água dos rios (…)”.
Palavras de Miguel Torga:
“A nossa memória está cheia dos nomes desses bem-aventurados que puderam cumprir-se inteiramente nas artes, nas ciências, nas letras, ou na simples maneira de existir. É o caso do Dr. Fernando Valle. Matusalém sem idade, teve tempo para ser no mundo a imagem paradigmática do jovem irreverente, do bom chefe de família, do amigo leal, do médico devotado, do político isento, do governante capaz, do cidadão exemplar” - Miguel Torga.

A memória recente é caduca como folhas de certas árvores.

Depois de pronta, a obra  engrandece a propriedade  do casal
John Stobart (membro da Filarmónica Barrilense),
conhecida por "Quinta das Mimosas" e valoriza o Barril de Alva

__
Nota de rodapé. 
- Adaptação do texto publicado no Blog Ritual(idades) em dezembro  de 2022 - CR

Breakfast in Barril de Alva



Os (novos) imigrantes

- A chegada de novos imigrantes à aldeia onde nasci, Barril de Alva, é um registo que tenho à mão e do qual dou fé com agrado.
Vieram de longe, investiram as suas poupanças - “coisa pouca”, quando a intenção é acomodar o repouso espiritual, que vale “fortunas de encanto e beleza”-, recuperaram casas modestas
e outras apalaçadas,
“com vistas largas”…
- Os (novos) imigrantes povoam a Beira Serra pelo deleite da geografia da região, usos e costumes, clima, e pelas gentes,
gentis e hospitaleiras,
solidárias,
teimosos e cabeçudos beirões  (*) - epiteto com que Miguel Torga definiu a crença e perseverança do povo serrano do seu tempo, pelo conhecimento profundo de quando exerceu medicina na região de Arganil e dela desfrutou com os “olhos da alma”,
límpidos de névoas,
que abarcavam o belo do todo com que a Natureza nos brindou.
Um dia, Torga, foi dizer adeus à serra do Açor:
“Com o protesto do corpo doente pelos safanões tormentosos da longa caminhada, vim aqui despedir-me do Portugal primevo. Já o fiz das outras imagens da sua configuração adulta. Faltava-me esta do ovo embrionário” (Piódão, 7 de abril de de 1991).
- Possivelmente, nem todos os imigrantes serão conhecedores da obra de Miguel Torga; em letra de forma, regressa a lembrança de um dos mais influentes poetas e escritores portugueses do século XX, com o intuito da sua descoberta pelos “novos barrilenses”, eventuais leitores deste registo.
-



domingo, 16 de abril de 2023

Barril de Alva - retratos


(Imagens recolhidas   nas  publicações  da barrilense Rosa Gouveia,
que dou  à estampa com a devida vénia)