quarta-feira, 27 de maio de 2009

Ricardo, “Original FM”


O mundo do Ricardo está (quase) confinado à segurança do lar, onde se movimenta com total à-vontade, como é normal…
O quarto, que serve de “local de trabalho”, fica no 1º andar e é daí que comunica com o mundo.
Abençoada Internet!
Não se pense que o Ricardo, vinte e um anos de sonhos por cumprir, usa as novas tecnologias para aceder exclusivamente aos sítios de conversação, longe disso: munido de dois computadores, um microfone e uma pequena mesa de mistura, criou uma estação de rádio, que mantém no “ar” dia após dia, sem interrupção.
De original tem o nome: “Original FM”.
A Rádio, pela sua mão, “passa música” – é esse o seu principal papel ….
O Ricardo é, pois, radialista e acumula as funções de produtor, realizador e locutor, “ganha asas nos treinos” e um dia, quem sabe, é bem capaz de voar em busca de novos horizontes. Essa é a sua meta.
Por agora, se sintonizarmos o Rádio Clube de Arganil, à tarde, em 88.5, ou à noite, entre as 20 e as 22 horas, o Rádio Dueça, de Miranda do Corvo, na frequência 94.5, poderemos aquilatar a sua competência, que é imensa.. As emissões são feitas a partir do seu estúdio privativo.
Faço da estória do Ricardo assunto desta croniqueta porque existe um pormenor que o diferencia da maioria de todos nós, mas não faz dele pessoa diferente: é invisual de nascença!
Não passa de um “pormenor”, de resto é igualzinho a qualquer outro na esperança de ter o seu emprego, de onde obtenha proveitos para um futuro em sossego junto da família que há-de ter, e espera ser completamente feliz!
Fez o nono ano de escolaridade, teve aulas de mobilidade durante três anos, estudou Braille, frequentou a ACAPO em Coimbra, onde “…aprendeu imensas coisas “ – diz, mas a Rádio é a”menina dos seus olhos”!
Se fosse possível, transformava o seu sonho em realidade, juntava-lhe todas as cores do arco-íris, e fazia dele um profissional de Rádio; ou então, com mais umas pinceladas no currículo, alterava-lhe o ritmo dos dias e seria recepcionista. Em qualquer destas ocupações, o Ricardo está como “peixe na água”, mas haverá outras onde pode ser útil à sociedade, a tempo inteiro…
A Ciência colocou à sua disposição um sintetizador de voz para a informação escrita, que lhe permite “ler” tudo o que estiver no ecrã do computador.Com os “olhos da alma”, nada escapa à hipersensibilidade da sua atenção, e gosta de se manter informado dos pormenores que fazem girar o mundo, porque ele acha que basta um pormenor para fazer toda a diferença – e faz! Sobre isso, o Ricardo é “catedrático” no pensar e veloz nas palavras:
Sou um rapaz normal, como os outros”!

terça-feira, 12 de maio de 2009

O “estádio” do Artur



Aninhado no sopé do monte, o rectângulo não deve ultrapassar os cinquenta metros quadrados. Em cada canto, uma estaca delimita o espaço. E há duas estruturas de madeira erguidas ao alto, a “fazerem” de balizas, porque é de um “estádio” que se trata, na imaginação do pequeno Artur, quatro anos de gente…
Nota-se que o “ervado” merece cuidados técnicos, mas não há marcações, e o “penálti”, se o houver, é para cobrar mais ou menos a meia dúzia de passos da imaginária linha de baliza. Certamente, o Artur, o primo João, bastante mais crescido (vai nas treze primaveras), e o Paulo, pai do Artur, não se importam mesmo nada com as “faltas”; árbitro também não deve haver, por isso, vamos ao jogo!
A bola está à espera – já lá estava, sozinha e “triste”, quando a descobrimos no “estádio vazio”, meia escondida pela “relva” – faltam os atletas e o público, possivelmente reduzido à mãe do Artur, se os afazeres lá por casa estiverem de folga.
Convém que as duas equipas tenham número igual de jogadores; à hora do jogo, devem surgir mais uns quantos amigos e então sim: começa a partida!...
… Talvez nada aconteça como imagino, e tudo não passe de uma brincadeira familiar, sempre se exercitam os músculos e o Artur dá asas ao sonho de chutar a bola num campo a sério, com balizas e tudo!...
Hoje, de manhã, li um excelente trabalho sobre o negócio das escolas de futebol, onde se realça o facto dos miúdos pagarem (os pais por eles…) determinada verba para aprenderem os truques do jogo; à tarde dei de caras com este “campinho”, quase à beira da estrada de quem vai de Vila Cova de Alva a caminho de Avô, um pouco antes da saída para Anceriz.

À falta de estruturas desportivas por estas bandas, onde as crianças se entretenham nos tempos livres, a arte e o engenho de quem aproveitou determinado espaço e o adaptou a “campo de jogo” não podia ficar sem a devida nota…
O escrito sobre as escolas de futebol, a que tive acesso, deixa no ar uma questão pertinente: quem não tem disponibilidade económica, não pode ter um filho a aprender o abecedário da modalidade?
Uma bola feita a partir de uma meia, cheia de folhas de jornal, é memória dos mais antigos; o jogo acontecia onde muito bem calhava, as pastas da escola faziam de baliza, e gritava-se goooooooooolo com o mesmo entusiasmo com que se ouve nos grandes estádios! Nasceram grandes jogadores nessas partidinhas de fim de tarde ou durante o tempo de recreio na escola…
Desconheço se o menino Artur, que “treina” num campinho à porta de casa, procura imitar as fintas e remates do seu ídolo; se há admiração, por exemplo, pelo Cristiano Ronaldo, é bom que saiba, daqui a uns tempos, quais foram os princípios do seu “herói” na prática do jogo da bola.
Já agora, ainda lhe digo que o “grande” Eusébio chutava descalço durante as intermináveis partidas que tinham lugar na terra batida e poeirenta da Mafalala, em Moçambique, e nem por isso deixou de chegar onde chegou…
Que o jogo comece lá para as bandas de Anceriz, sem árbitro nem marcações no “relvado” – desde que a bola “pule e avance”, os sonhos são todos dele, do Artur, o dono “estádio”!
“Bora” lá, Artur, chuta-me essa bola, que o guarda-redes “estás de costas”!
Goooooooooolo!!!

Confrades

Vale a pena conhecer as sensibilidades dos amigos António e Nuno Espinal através dos blogs de que são autores:

O "Chiado"


Do meu sítio eram naturais os fundadores dos Grandes Armazéns do Chiado. Por aqui ergueram obra de vulto, como uma sucursal dos ditos armazéns. Da "casa de férias" ( o palacete, de que há imagens neste espaço) ao estabelecimento, pouco é de aproveitar sem intervenção radical...
Imagine-se este espaço nos anos cinquenta. Além da venda de mercearia, materiais de construção, tecidos e outros "luxos", ainda tinha uma taberna nas traseiras. Central telefónica e posto dos correios - havia de tudo um pouco no "centro comercial" do Chiado.
Na mesma rua, mais acima, havia outro espaço do género. Junte-se outra taberna, um talho e um ferreiro e fica-se com uma ideia da importância da aldeia...
...A Filarmónica era (e continua a ser!) a menina bonita das gentes do meu sítio - Barril de Alva.